Quando estudante de medicina e mesmo anos depois de formada pensava que nós médicos(as)éramos "imorríveis" e "indoencíveis." Sei lá porque pensava assim. Mas pensava.
Com o passar dos anos, a ficha foi caindo e a vida foi me mostrando que não era bem assim. Ou melhor, não era nada assim.
E me vi assustadíssima com a morte, principalmente, a morte não anunciada.
Desde então comecei a pensar uma maneira de não ser pega de surpresa e deixar nas mãos de qualquer pessoa o que eu quero que seja feita com my body.
Quero está de baton, blush, rímel, bem muito rímel, sombra, pó facial, uma roupa bonita, ajeitadinha.
A morte já é feia e vc ser vista mais feia ainda, não pode.
Sempre falei isso aqui em casa. Sempre fiz essas recomendações.
Avisei aos parentes todos.

Essa foto mostra meu marceneiro Rosinaldo. Um competente, marceneiro.
Faz algum tempo que fui encomendar a ele um caixão de qualquer coisa, sem preocupação de ser formicado por dentro ou por fora, mas que tivesse uma gaveta bem grande e funda onde eu pudesse levar coisas dos quais não quero me separar. Alguns livros, roupas, sandálias, minha bota de cano longo, meu notebook, rádio com pilhas novas ligada na Antena 1 e outras coisas que não lembro agora.
Tomei um susto com a reação do Rosinaldo.
Ele quase saiu correndo escada fora.
E até hoje, não aceita falar no assunto.
Mas eu vou insistir. Só tenho ele para fazer essa encomenda.
Liliane